sexta-feira, março 31, 2006

Ata de reuniao para analise Portal da Amazonia

O MOL programará várias reuniões para análise do projeto da Prefeitura de Belém. Esta foi com o núcleo científico. Breve estaremos convidando todos os voluntários para reunião com enviado da prefeitura. Abaixo a ata do primeiro encontro.

Ata 001/2006

A fim de discutir o projeto de urbanização da ‘estrada nova’ proposto pela Prefeitura de Belém, denominado Portal da Amazônia, o Movimento Orla Livre realizou uma reunião de trabalho no dia 28 de março de 2006 no auditório do POEMA/UFPA entre 10h e 12h conforme convite-explanatório. Somando-se voluntários da teia científica e colaboradores externos compareceram onze pessoas. A sessão seguiu de forma aproximada a ordem e os tópicos previamente definidos. Um agravante foi o fato de não termos tido à mão o projeto em papel, embora pedido à equipe da prefeitura, e assim nos valemos das poucas informações oficiais disponíveis.
Após as apresentações pessoais e o delineamento do tema a ser discutido, todos tiveram a palavra quando solicitada e lançaram observações, idéias e indagações.
A questão básica que permeou toda a análise foi “que orla almejamos?”. Após a exposição superficial por Luis Lacerda do estado atual e das origens do dique da Estrada Nova, o Prof. Sucasas comparou a engenharia utilizada por volta de 1940 à de viadutos. O Prof. José Ramos indagou sobre a existência de estudos de impacto ambientais e a resistência do aterro hidráulico ao considerar correntes de até 2m/seg. No aterro do Flamengo tomado como referencia as ondas são frontais e não longitudinais.
O Prof. Saint-Clair lembrou da necessidade de estudos de ‘impacto no entorno’ conforme exigido no Plano Diretor Urbano. Questionou-se o conflito que uma via expressa trará ao justapor o tempo ribeirinho com o tempo veloz da cidade. A seguir, ele e sua equipe de alunos, descreveram os portos, feiras (Açaí, Palha e Ponto Certo) e vizinhança como praças de encontro e mediações comerciais e afetivas onde se envia cartas para o interior ou recebem-se parentes dali procedentes. A cineasta Patrícia Costa definiu como espaços de resistência e olhares perdidos. Ficou patente que são locais de trabalho e sociabilidades para muitas pessoas. Nielson Assunção contou-nos de sua vivência e do estado de pobreza nos ilhéus detectado em seu trabalho de contabilidade social na cadeia produtiva do Açaí. Os geógrafos expressaram a favelização que vitimou o porto do sal na invasão das Malvinas. Firmou-se que qualquer urbanização não pode descaracterizar as peculiaridades encontradas e sim, valorizar e afirmá-las como elementos da cultura ribeirinha.
Hermínio Leite tratou da infraestrutura precária dos trapiches e a necessidade de educação ambiental e terminais hidroviários de qualidade. A este respeito o Prof. Saint-Clair evidenciou a dificuldade de acesso de deficientes físicos e o Prof. Sucasas relatou que sacos de lixo recolhidos nas embarcações às vezes são lançados no rio. A turismóloga Irena Costa citou que durante o círio fluvial os clientes da terceira idade, que são maioria neste evento, sofrem para subir a bordo através das pequenas pranchas de madeira. O Prof. José Ramos questionou a distribuição espacial das estâncias de madeira e sugeriu agrupá-las de forma adequada na área da CEASA.
Luis Lacerda ampliou o debate ao expressar o desejo de uma orla arborizada, com múltiplos usos e equilibrada pra todos. O Prof. Saint-Clair postulou, contudo, a necessidade de inversão de prioridades na execução de obras e atenção às reivindicações das pessoas. E assim definiu-se a seguinte ordem preferencial: ribeirinho, citadino e turista.
Tocaram-se também os problemas gerados por remanejamentos de moradias e a fome da especulação imobiliária que tenderá a afastar os mais pobres da área. O mecanismo ZEIS (Zonas Exclusivas de Interesse Social) foi citado para contenção do capital predatório. Sugeriu-se contatar a arquiteta Alice Rodrigues responsável pelo PDU de Belém. Falou-se também de quebrar o estigma da casa popular malfeita e feia que os governos sempre propõe. E o perigo do poder público ouvir os agentes envolvidos, mas não acatar as recomendações.
Esclareço que alguns tópicos abordados serão aprofundados em próximo encontro. Por exemplo, quais equipamentos urbanos a orla deve dispor. Durante os instantes de brainstorm foi sugerido até mesmo um chuvodromo e a realização de passeios turísticos guiados aos portos tradicionais nos moldes que o Prof. Flavio Nassar coordenará pelo centro histórico a partir de abril em torno da obra arquitetônica de Landi. E como grafamos acima a técnica criativa de ‘tempestade cerebral’ em inglês revelo que o termo píer foi abominado e deverá a partir de agora e para todo o sempre ceder lugar ao arraigado ‘trapiche’ no vocabulário do Movimento Orla Livre.
Por fim, do ponto de vista deste relator, a chuva com a maré alta fez o rio guamá boiar até a ilharga do mangue o que contribuiu sobremaneira para o agradável colóquio.
Obrigado aos participantes e aguardo todos para continuarmos a análise na internet na lista de discussão do Orla Livre.

Luis Lacerda

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