domingo, fevereiro 08, 2004

Diário do Pará, 8 de fevereiro de 2004, Hélio Gueiros

Porto de Belém: para loucura, loucura e meia

Para mim, não tem o menor cabimento essa idéia de se acabar com a Marechal Hermes e parte da Doca para se transformar tudo em pátio de estacionamento de carretas e viaturas à espera de vez para embarcar ou desembarcar mercadoria no porto de Belém. A capital deixará de usufruir livremente dos serviços e paisagem de duas importantes vias de acesso e escoamento do trânsito para dar lugar à eventual demanda de volume de carga e descarga no entreposto da Guajará.

Vale lembrar que o porto de Belém já foi muito mais usado em outros tempos do que agora. Semanalmente, chegavam e saíam do porto de Belém, além das embarcações nacionais de cabotagem, navios indo e vindo da Europa, da América e até do Oriente. Mas tudo se continha dentro das fronteiras gradeadas do cais do porto. Nunca ninguém pensou em se subtrair da capital a enorme área agora cobiçada. E nesses tempos só se podia entrar e sair de Belém através das águas da Guajará. Mas nunca se sugeriu ou se pensou sequer em acabar com o uso livre da área do porto. Não tem sentido que Belém, antes ligada somente pelas águas mas agora pelas rodovias para toda parte do mundo, não tem sentido — repito — se resolver problema de estacionamento público no porto com a interdição de um bairro inteiro da cidade.

As autoridades que terão de decidir sobre a solução adequada têm de levar em conta, também, o interesse, os desejos e as tradições da população de Belém inclusive o bom baiano Ademir Andrade, presidente da CDP, que tem de ser, por igual, um bom belenense.

Se se ceder agora, vai chegar o dia em que alguém vai sugerir que se leve a área de estacionamento até à Praça da República porque lá tem muito espaço para carretas e caminhões. E vai se sugerir, também, que se engula a recém-inaugurada Estação das Docas para tudo virar parque de estacionamento.

— Mas essa argumentação não procede —, alguém me interrompe. — Estás argumentando com absurdos e loucuras. Assim não vale.

E eu replico: Pra mim, acabar com Marechal Hermes e Doca de Souza Franco é loucura do mesmo tamanho. Para loucura, loucura e meia. Só assim se pode chamar a atenção para o tamanho do disparate.

Uma pergunta no final: a Alça Viária e o porto da Vila do Conde são só enfeites?

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