quarta-feira, fevereiro 08, 2006

O Liberal, 8 fev. 2006. Atualidades. Dúvida e temor rondam a orla

Moradores cobram da Prefeitura de Belém mais informações a respeito dos critérios para retirar do local os que ocupam a Bernardo Sayão O projeto “Portal da Amazônia”, idealizado pela Prefeitura de Belém para transformar toda a extensão da avenida Bernardo Sayão em uma área turística, desperta curiosidade e dúvida entre os moradores que vivem nos bairros da Cidade Velha, Condor, Jurunas e Guamá. Todos querem saber o que acontecerá com suas residências e pontos comerciais.

Para o funcionário público Luciano Amaral, que mora no Guamá e será afetado pelo projeto, a prefeitura precisa esclarecer o que acontecerá, de fato, com os moradores. “O projeto é interessante porque vai transformar um ponto morto de Belém em uma grande área turística. Mas como ficará a situação de quem mora aqui? Tem muita gente que quer saber se terá que ser remanejada. É preciso mais explicações sobre as desapropriações”, detalhou Amaral.

Para o comerciante Alberto Santa Brígida, a democratização do uso da orla é uma excelente proposta. “O problema é que ninguém explica nada. E se eu tiver que ser desapropriado? Como ficarei? Quais os critérios que serão utilizados para indenizar quem terá que se mudar? Isso tudo ainda é um mistério”, questionou. O estofador e tapeceiro Ricardo da Silva, que mora na Condor, numa pequena casa com mais sete pessoas, está temeroso. Ele quer saber se terá que sair ou poderá permanecer no local onde mora.

De acordo com Ricardo da Silva, todo o seu trabalho é feito na Condor. “Aqui é o meu ganha-pão. Fico preocupado se eu tiver que sair daqui na marra. Tem muita gente dizendo que nos casos de desapropriação normalmente o governo paga um valor muito mais baixo pelo imóvel. Por isso, aviso logo que não vou topar uma negociação onde eu e minha família fiquemos na pior”, advertiu Ricardo. A dona-de-casa Edneuma Alves disse que não acredita neste projeto. “Isso é mais uma invenção. Só acredito vendo”, disse.

Para Rosângela Ferreira, que trabalha como empregada doméstica, o projeto parece ser bom. No entanto, ela esclareceu que será preciso a prefeitura informar melhor a população, que, por enquanto, tem muitas dúvidas. “Só sei que da minha casa eu não sairei”, avisou. A costureira Maria de Nazaré Corrêa, que tem um pequena loja de confecções no bairro da Condor, disse que o projeto só vai funcionar se ninguém sair perdendo. “O que não pode é a prefeitura chegar expulsando todo mundo. Tem muita gente que mora aqui. E esse povo será levado para onde?”, questionou a costureira.

Prefeito apresenta o projeto a Belém na sexta, no Antônio Lemos

A Prefeitura de Belém deu o primeiro passo para implantar o projeto “Portal da Amazônia”, que pretende urbanizar seis mil metros da orla da cidade, entre o Mangal das Garças e a Universidade Federal do Pará. O LIBERAL teve acesso, com exclusividade, às primeiras imagens da perspectiva do projeto básico feito pela prefeitura, que já está em processo de licitação. Ele será, na sua concepção, um dos maiores e mais importantes empreendimentos a serem implantados na capital nas últimas décadas.

Orçado em R$ 122 milhões, o projeto deverá ser iniciado no próximo mês de abril, cumprindo a primeira etapa, que vai do Mangal das Garças até as imediações da rua Conceição, no bairro do Jurunas. Nesse trecho, que mede 2,4 quilômetros, a prefeitura já pode começar as obras porque não existe a necessidade de desapropriações. O projeto, que está sendo elaborado desde o ano passado e será apresentado na sexta-feira pelo prefeito Duciomar Costa, deverá mudar a frente da cidade, abrindo um grande “janelão” para o rio, melhorando o saneamento da área e incrementando o turismo.

Durante todo o ano passado, a prefeitura buscou parcerias para financiar a obra e já conta com apoio dos governos estadual e federal, através do Ministério do Turismo. Algumas empresas também sinalizaram com apoio financeiro para viabilizar a obra. Pela dimensão do projeto, a prefeitura pretende conseguir um maior número possível de parcerias para equacionar o cronograma e iniciar a obra ainda este ano. Na primeira etapa do projeto serão utilizadas as mais avançadas técnicas de engenharia, como o aterro hidráulico, a exemplo de obras em Copacabana e no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.

Modernidade - O projeto prevê seis pistas, com largura de 70 metros, contendo área de passeio, estacionamento e ciclovia. Parte do espaço deverá ser reservada para área de lazer, incluindo quadras de esporte, áreas com equipamentos de ginástica, restaurantes e quiosques, nos moldes das orlas construídas nos grandes centros, como Recife e Rio de Janeiro. Com o projeto, a prefeitura pretende fazer com que Belém desponte definitivamente para o turismo com objetivo de gerar emprego e renda, aliado às outras obras que abriram algumas janelas para rio, como a Estação das Docas, o Ver-o-Rio e o Mangal das Garças.

Na segunda etapa, o projeto prevê a abertura da orla até a Universidade Federal do Pará. Mas, dependerá das desapropriações. O prefeito Duciomar apresentará o projeto para a sociedade na sexta, a partir das 9 horas, no Palácio Antônio Lemos.

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