terça-feira, março 06, 2007

Famílias despejadas na Bernardo Sayão. O Liberal (6 mar 2007)

No Guamá

Justiça determina despejo para garantir o 'Portal da Amazônia'
Tumulto e confusão marcaram, ontem, o despejo de duas famílias que ocupavam um prédio situado à avenida Bernardo Sayão, no bairro do Guamá, às margens do rio com o mesmo nome. O prédio fica no trecho em frente à avenida José Bonifácio. As famílias moravam e trabalhavam no imóvel há mais de 20 anos.
O despejo aconteceu por volta das 9 horas em cumprimento à decisão do juiz Antônio Carlos Campelo, da 5ª Vara da Justiça Federal no Pará, a pedido da Prefeitura de Belém contra as famílias do empresário Moacir Costa e do genro dele, Oswaldo Koury. No térreo do imóvel, funcionavam uma loja de materiais de construção e uma estância de madeira. As duas famílias residiam nos altos do prédio.
Moacir, a esposa Maria José e uma das três filhas do casal estavam no prédio na hora do despejo. Dona Maria José tentou impedir o despejo, mas foi contida após ser ameaçada de prisão pelo delegado da Polícia Federal que estava acompanhado por três agentes. Ele pediu para que as famílias não reagissem. Ela discutiu com o delegado, chorou muito, mas foi retirada do imóvel junto com a filha. Sob pressão, dona Maria desmaiou e foi amparada pela filha Elane Costa. Em seguida, foi levada para um hospital. Duas filhas do casal e o genro, que estavam trabalhando, foram avisados por telefone sobre o despejo e se deslocaram até o local. Mas foram impedidos de entrar no imóvel pelos policiais federais e por doze homens do Grupamento de Ações Táticas da Guarda Municipal de Belém (Gbel), que isolaram o prédio. 'Foi uma agressão moral e psicológica. Nós fomos impedidos de entrar em nossos quartos por uma ação truculenta e vexatória. O trânsito parou para todo o mundo assistir', disseram.
Todos os objetos pessoais das famílias foram retirados de dentro do imóvel e colocados em uma picape e dois caminhões. Um trator e uma caçamba foram usados para retirar a madeira e os equipamentos da estância e da loja. Moacir, o único que pode acompanhar a retirada dos objetos da família de dentro da casa e dos produtos da loja, convenceu as duas oficiais de justiça para que os bens fossem levados para a casa de um parente deles e não para o depósito da prefeitura. Revoltado, ele disse que foi surpreendido pela ação. 'Recebemos uma notificação na sexta-feira que não informava a data. A gente acreditava que teria pelo menos 15 dias para alugar uma casa. Foi uma ação arbitrária e truculenta', disse.
O imóvel está avaliado em R$ 700 mil e será demolido para que seja feita a continuação da José Bonifácio até o rio Guamá. A obra faz parte do projeto 'Portal da Amazônia', da Prefeitura de Belém. Mas o comerciante garantiu que não foi indenizado. Ele disse que vai recorrer da decisão judicial.
O chefe da Divisão de Engenharia do Gerenciamento de Patrimônio da União, Paulo Murca, acompanhou as duas oficiais de justiça no cumprimento do mandado de reintegração de posse da área ao patrimônio da União. Ele informou que o prédio na Bernardo Sayão obstrui a continuidade da José Bonifácio. Paulo disse que a Prefeitura de Belém entrou com a ação em 2005. As oficiais de justiça e o delegado da PF se recusaram a comentar as denúncias feitas pelas duas famílias despejadas.

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